Assinalar-se o Dia da Criança, é ainda uma data essencial para nos fazer refletir sobre o caminho que estamos a fazer para assegurar os seus direitos desde a primeira hora.

Esta é uma reflexão que pode e deve ser global.

Nesse sentido, é inevitável questionarmos: as nossas localidades são amigas das crianças?

No meu caso particular, será que a Freguesia de Vialonga responde da forma adequada às necessidades de crescimento e desenvolvimento social de uma criança que aqui resida?

Ao olharmos para a nossa terra, vemos que ainda falta muito para que possamos falar realmente de uma freguesia dedicada às crianças. Antes de mais, faltam espaços verdes dispersos pelas suas áreas residenciais que permitam aos mais pequenos divertirem-se ao ar livre.

Não ignoramos a existência do Parque Urbano da Flamenga, um espaço público de referência no concelho de Vila Franca de Xira, e que defendemos desde a primeira hora. Mas quem conhece Vialonga sabe bem que uma criança da Quinta da Maranhota ou do Gentil dificilmente terá um usufruto regular deste grande espaço verde, que se situa num ponto oposto da localidade.

É preciso olharmos para Vialonga a partir dos olhos de uma criança. Neste exercício, facilmente se contata que é uma prioridade assegurar que existam pequenos jardins “de bairro”, com equipamentos de diversão, que permitam a todas as crianças brincarem umas com as outras, ao ar livre. Duas coisas que parecem simples, mas que são essenciais para um desenvolvimento integral de cada uma delas.

E quando falamos de todas as crianças, falamos mesmo de todas. Urge assim construir, em Vialonga, um parque infantil inclusivo, que também permita que crianças com deficiência, crianças neurodiversas, crianças com mobilidade reduzia possam ali encontrar equipamentos adequados às suas necessidades, bem como de estímulos tácteis, musicais, cognitivos e olfativos. É prioridade de todos/as nós defender o direito de todas as crianças a serem felizes, derrubando pela nossa ação as barreiras que ainda possam existir.

Também as escolas têm de ser vistas como um espaço de desenvolvimento pessoal, onde o convívio é tão importante como o ensino e a aprendizagem. Hoje, Vialonga tem sete escolas do 1º Ciclo e Jardins de Infância, e embora vários deles tenha sido objeto de obras de renovação, existem problemas que não podemos ignorar.

Uma das nossas maiores preocupações é a quase ausência de espaços verdes dentro dos recintos escolares. Os espaços de recreio têm sido ocupados por pavimento e construção, privando as crianças de espaço aberto para serem elas próprias. Por exemplo, é com muita apreensão que observamos que na Escola do Cabo de Vialonga o espaço ao ar livre quase deixou de existir, repetindo os problemas de outras escolas, como a da Quinta das Índias ou de Alpriate, onde estes espaços não são, de todo, cómodos para as crianças brincarem.

Com espaços físicos assim, como podemos pensar na saúde mental, psicomotora, física e social de uma criança?

É inútil ter discursos proclamatórios no Dia da Criança que depois não se traduzem em ações concretas, que pensam na singularidade de cada contexto e de cada criança.

Concluindo, ainda existe muito a fazer para tornar Vialonga numa terra mais amiga das suas crianças. No entanto, não poderia terminar sem uma nota de apreço. Estou certo de que as preocupações que referi são partilhadas por todos/as agentes políticos da nossa freguesia; e não ignoro o trabalho que é realizado pelo movimento associativo orientado para as crianças (e famílias), nomeadamente, na tentativa de responder às necessidades educativas de cada criança da freguesia.

Mais do que uma reflexão, espero que possamos trabalhar por um futuro melhor para as novas gerações; esse futuro que começa por nós, antes que seja tarde.

 

Fábio Mousinho Pinto

Partilhar
Partilhar